Tudo muda no momento em que Evandro segurou Julia nos braços pela primeira vez.(Foto: Arquivo Pessoal)
A Voz da Experiência é escrita pelo cineasta Evandro Sudre, de 41 anos, que roda o mundo como missionário. Movido pela fé, ele abriu mão do modo de vida convencional para contribuir com o que ele acredita ser solidariedade. Mas no instante que a filha Júlia nasceu ele descobriu a beleza de querer cuidar e proteger.
Ada, Evandro e Julia. (Foto: Thailla Torres)
"Meus primeiros contatos com a missão foram no início dos anos 80, quando eu tinha apenas 5 ou 6 anos de idade e acompanhava meus pais na visita às áreas mais pobres da periferia de São Paulo. Ajudar famílias e pessoas em zonas de vulnerabilidade, e lutar pra oferecer alimentos, roupas e até abrigo aos desfavorecidos são, de alguma maneira, parte do meu DNA. Aprendi em casa, na educaçãosimples, mas muito honesta e valorosa que meu pai me deu.
Segui servindo como “embaixador” (que é uma espécie de escoteiro cristão) desde pequeno até uma parte da minha adolescência e mais tarde começaram as viagens pelo mundo pra fazer e pra ensinar sobre missões nos 5 continentes.
Eu comecei como todo bom mochileiro, sozinho, com um espírito aventureiro, uma paixão desmedida por servir às pessoas e seguramente um parafuso à menos na cabeça – risos. Durante os mais de 20 anos em que rodei o mundo eu dormi em quase todo tipo de lugar que se possa imaginar, desde carros abandonados à barracas armadas em meio a tempestades tropicais, já morei em sotãos e porões de famílias que me receberam, passei temporadas dormindo em lugares muito rústicos e em alguns momentos regiões violentas, onde o terrorismo, o crime e até guerras civis estavam ganhando força. E advinha só? Eu descobri que estava onde deveria estar e sempre amei essa vida.
Eu estava vivendo nos Estados Unidos quando conheci minha esposa Ada Elisa Sudre; numa das viagens para ensinar sobre missões eu visitei Campo Grande e lá estava ela! Linda, solteira e apaixonada por esta vida de ajudar pessoas. Meses mais tarde servimos juntos na África e tudo nos dizia que nossa vida de casados seria muito parecida com nossa vida de solteiros: rodando o mundo e vivendo a grande e louca aventura.
Até que no ano passado, quando ela me contou da gravidez, naquele mesmo segundo eu sabia que minha vida iria mudar, mas eu mal poderia imaginar o quanto. A paternidade já era sonhada há muitos anos, assim como o desejo – que ainda tenho – de adotar; mesmo assim tudo muda no momento em que nós pais seguramos nossos bebês nos braços pela primeira vez. Naquele momento qualquer alma masculina minimamente sadia sente a beleza e a resposabilidade de cuidar, amar e proteger.
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