sábado, 14 de fevereiro de 2015

'Campeão', carnavalesco prudentino, participa de seu 57º Carnaval

Aos 73 anos, Aparecido relata sua participação em desfiles da cidade.
'Falei para minhas filhas que quero morrer no Carnaval', aponta.



O Carnaval de 2015 será o 57º do aposentado Aparecido Arcanjo de Araújo nas avenidas. Grande parte das mais de cinco décadas foi dedicada às escolas de samba de Presidente Prudente. Aos 73 anos, o “Campeão”, como é conhecido, relatou ao G1 sua participação nos carnavais desde os 17 anos com um sorriso e a alegria do Carnaval estampados no rosto.

Desde 1958 Campeão integra escolas de samba. Trabalhar, montar carros e pintar. Enfim, ele não gosta de ficar parado. “Meu negócio não é só colocar a fantasia e andar”, destacou.

Aparecido lembra com alegria que antigamente não tinham guinchos para levar os carros alegóricos até o local do desfile. “Os artistas empurravam os carros até a avenida. A gente chegava suado e vestia a fantasia, não dava nem tempo de tomar banho. É o gosto pelo Carnaval”, contou.
Ninguém da família era contra a participação de Campeão no Carnaval e, até 1990, quando a esposa faleceu, todos caminhavam juntos pela avenida: Pai, mãe e as duas filhas. Porém, “ela saía na escola por causa de mim, pois ela não gostava como eu, mas tinha ciúme e quem ama cuida”, disse rindo.
Sem apagar o sorriso do rosto, Campeão relembra que sua esposa cuidava de alas e as filhas eram passistas. “Todos os dias a gente saia a pé da Vila Brasil para ir ensaiar na Unidos do Jardim Paulista. Quando terminava, a gente voltava do mesmo jeito, só parava para dar um lanchinho para as filhas e ia embora”. “Era muito gostoso, a gente nem gastava”, apontou.

“A minha maior alegria era quando eu saia com minha mulher e minhas duas filhas, mas no ano seguinte, com a morte da minha esposa, me senti tristeza, pois não era como quando elas estavam juntos”, comentou.

Mas a paixão pelo Carnaval não deixou que ele se afastasse das festas. “Eu falei para minhas filhas que quero morrer no Carnaval”. “Ano que vem, com 74 anos, espero que Deus me dê forças para desfilar e, mesmo se eu estiver em uma cadeira de rodas, é para me colocar na avenida”, afirmou Campeão.

Trajetória
O primeiro grupo prudentino que recebeu o carnavalesco foi a Bico de Ouro, onde foi convidado para integrar a bateria e permaneceu por quatro anos. “Fui o primeiro ano e gostei. Foi muito bonito”, disse.

Depois, Campeão passou a integrar a Unidos do Jardim Paulista, escola onde conquistou o Carnaval prudentino por três anos seguidos. “Fui campeão, bicampeão e tricampeão”, relata com um sorriso. Mas a lista não para por aí. A Saudosa Mangueira e a Unidos da Zona Leste também contou com Aparecido na bateria por um e dois anos, respectivamente.

Porém, em meados de 1970, um problema de saúde levou o Campeão para São Paulo. “Fui para lá pois meu coração estava inchado e eu sentia falta de ar e, como lá era mais fresco, me curei”, lembra. “Mas quase chorava querendo voltar para Presidente Prudente, onde nasci, me criei e quero morrer”.
Na Capital, Aparecido não se afastou do Carnaval. Um sobrinho que mora lá, fazia parte – e ainda faz – da bateria da escola de samba Vai-vai e o convidou para participar do grupo. Campeão cuidava de aproximadamente 10 alas que desfilavam pela avenida paulistana.

Quando retornou para Presidente Prudente, conheceu a União Comunidade Se Sair é Milagre. Gostou da escola e, este ano, desfila pela terceira vez com o grupo. Porém, a idade fez que Campeão deixasse a bateria. “Eu ponho a roupa, o chapéu, um blazer bem bonitinho e saio de ponta a ponta só sorrindo".

"A idade vai chegando e não aguento mais tocar o instrumento”, disse. “Mas me sinto feliz. Na avenida parece que esqueço de tudo, nem dá canseira”.
Apelido
Mesmo acumulando títulos pelas escolas de sambas nas quais Aparecido integrou, se engana quem acredita que o apelido Campeão foi criado nas avenidas. Ele relatou que assistiu a um filme que contava a história de um boxeador que saiu pelo mundo com o filho após ser abandonado pela esposa.

Uma cena do longa chamou a atenção de Antônio. Durante uma luta, o personagem estava apanhando e seu filho dizia “vai campeão, levanta campeão”. “Quando o lutador escutou a voz do filho ele levantou ensanguentado deu um murro certeiro e ganhou”, lembrou. “Ai comecei chamar as pessoas de campeão por causa do filme. Para mim, todo mundo é campeão”.

Stephanie Fonseca
Do G1 Presidente Prudente

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