Pratos caseiros e pescaria são 'atrações' para seus
'filhos' e visitantes.
Religiosa, Dona Lucila passará o Dia das Mães
trabalhando.
Padres acompanham Lucila em uma de suas atividades
preferidas: a pescaria (Foto: Fernanda Samizava/Arquivo Pessoal)
Já se passaram mais de 25 anos desde que dona de casa
Lucila Oliveira Felício, de 82 anos, se mudou para o distrito de Primavera, em
Rosana, mas ela não deixa de receber pessoas para passar uma temporada com ela.
Nem precisa ser familiar ou nem mesmo conhecido para receber um convite para
ficar em dos quartos de sua casa. Mas os padres lideram a lista de visitantes:
mais de dez párocos já chegaram a residir com ela, o que representa a maior
parte dos religiosos que já ficaram responsáveis pela paróquia do local, se
tornando a "mãe postiça de muitos" deles.
“A casa é muito grande. Gosto de receber as pessoas,
conversar. Já fui pescar com vários padres. Nós adoramos. Já peguei cada peixe
lindo junto com eles! Tenho tudo quanto é tranqueira. Dificilmente volto sem
nenhum peixe. Aí os padres vão se tornando amigos. Vejo muitos deles por aí”,
conta a senhora.
Mãe de quatro filhos, todos já morando fora de casa, e
viúva "há muito tempo" (seu marido trabalhava na Companhia Energética
de São Paulo – Cesp), o espaço de sobra se tornou o aconchego de visitantes de
várias cidades do país. “O padre Luís, mesmo, me chama de 'pão de queijo', pois
sempre traz alguém para ficar aqui ou convida para comer o meu pão de queijo,
que faço de forma caseira. Faço tudo do bom e do melhor para quem recebo. A
lasanha também faz sucesso. Teve padre que veio em casa às 00h, só para
comê-la”, relata.
Lucila conhece praticamente todos os párocos que já
passaram por Primavera, já que mora nas proximidades da paróquia e está no
local desde sua fundação. A descendente de portugueses conta que este costume
de receber pessoas em casa é um costume de família, passado pela própria mãe,
que viveu momentos difíceis.
“Meu pai foi tomar um vinho e, após uma discussão, um
rapaz deu um tiro bem no pulmão dele. Minha mãe ficou sozinha, com cinco filhos
para criar. Mesmo com dificuldades, ela recebeu uma senhora que era responsável
por um curso de catequese na cidade onde morávamos, Bauru (SP). "Conversa
vai, conversa vem", ficamos sabendo que ela era parente do homem que
assassinou meu pai. Choramos muito. Ainda assim, ela continuou hospedada na
nossa residência. Minha mãe foi uma heroína”, lembra.
Receber os padres em sua casa é mais do que uma
colaboração aos trabalhos da igreja, mas também um ato prazeroso. “Na minha
casa vem padre, vem freira, irmãos da igreja e quem precisar. Faço isso com
muito carinho. 'A gente' é sozinha. Não tenho como pagar o bem que eles me
fazem. Acho que mais de 50 pessoas já ficaram em casa. Chega alguém na cidade,
eu já dou um jeito em tudo para recebê-lo”, explica Lucila.
Quando encontra os padres pelas ruas de Primavera, a
alegria da “mãe postiça” é extravasada. “Já encontrei eles na feira. Vejo um ou
outro por aí. Aí eu abraço e converso. Dá uma saudade de quando eles estavam lá
em casa...”, relembra a dona de casa.
Mão abençoada
Além do pão de queijo e da lasanha, a hospitalidade da
famosa Dona Lucila conquistou o primeiro padre da Paróquia de Rosana.
Atualmente, Antônio Arnaldo Gomes, de 58 anos, deixou suas funções como pároco
e atua como professor de filosofia, mas não esqueceu do carinho recebido.
“Ela é uma mãezona de todos nós. Ir até sua residência
era como ir para a casa de nossa mãe. Foi meu ponto de acolhimento”, relata.
Se o primeiro padre do distrito não ia até Lucila, ela
fazia o caminho até o seu “filho” durante os seis anos que trabalhou na cidade,
de 1981 a 1987. “Ela sempre visitava a casa paroquial levando alguma receita.
Lembro bastante dos bolos. Ela tem uma mão abençoada. Seus dotes culinários são
incríveis”, comenta o professor.
A saudade da “mãe de Primavera” foi reduzida durante uma
visita da dona de casa à sua residência, localizada em São José do Rio Preto
(SP). “Nossa relação é muito boa. Ela faz tudo com o coração”, declara.
Dia das Mães
Lucila decidiu passar o final de semana do Dia das Mães
trabalhando em prol da igreja. “Vou atuar em uma ação de catequese nas igrejas
de Presidente Prudente. É uma forma de aproveitar esta data e rever amigos”,
diz.
Ao final, a dona de casa deixa o convite. “Se quiser vir
aqui em casa, filho, pode vir. As portas estão sempre abertas. Não precisa nem
avisar”
Fonte: G1 Prudente
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