O trecho a ser concedido possui 1.340 km de extensão e
adentra o território paulista pelo município de Estrela D’Oeste.
O Conselho Nacional de Desestatização aprovou as
condições gerais para licitar a concessão de mais dois ramais da Ferrovia
Norte-Sul, entre eles, o trecho que ligará as cidades de Ouro Verde (GO),
Estrela d’Oeste (SP) e Dourados (MS). O governo federal não levou em
consideração a proposta encabeçada pelo Executivo de Rosana, que visava
reformular o trajeto e trazer os trilhos até Porto Primavera, onde então
utilizaria a ponte da Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta para cruzar o Rio
Paraná e seguir ao Mato Grosso do Sul.
Se o projeto tivesse sido incorporado ao traçado
original, a concessionária que assumirá a obra poderia economizar até R$ 4
bilhões, segundo a Prefeitura de Rosana, além de encurtar a obra em
aproximadamente 460 quilômetros (km). Com isso, o tempo de construção da
ferrovia seria até cinco anos menor em relação ao cronograma original.
O trecho a ser concedido possui 1.340 km de extensão e
adentra o território paulista pelo município de Estrela D’Oeste. De lá segue
até Panorama, onde deverá ser construída uma ponte para que os trilhos sigam
até o Mato Grosso do Sul, na altura de Brasilândia e finalizando em Dourados
(MS). Nesse local, a ferrovia se conectará com um outro ramal que ligará
Maracaju (MS) ao Porto de Paranaguá (PR). O segundo trecho aprovado para
concessão faz a rota Lucas do Rio Verde (MT) – Campinorte (GO) – Palmas (TO) –
Anápolis (GO), num total de 1.920 km.
De acordo com a resolução publicada em 14 de outubro no
Diário Oficial da União, as concessionárias escolhidas no processo licitatório
poderão explorar os ramais por 35 anos, com possibilidade de prorrogação por
mais 35 anos. Sairá vencedora a empresa que apresentar o menor valor na
concorrência pública, em sessão pública a ser realizada na Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa), com sede na capital. Os projetos eleitos serão submetidos
à análise da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), para que seja
autorizado o início das atividades de implementação.
Embora a licitação esteja prestes a ser aberta, o pesquisador
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Antônio Assiz de Carvalho Filho,
afirma que ainda é possível reverter a situação. Segundo ele, não há dúvidas de
que o projeto regional vai ao encontro do que desejam os órgãos responsáveis
pela execução da Norte-Sul, por conta de
sua viabilidade técnica e financeira. Além disso, o território paulista dispõe
de uma população muito maior e um mercado muito mais aquecido do que o Estado
sul-matogrossense que, conforme o traçado original, abrangeria quase toda a
extensão do ramal. Já que a relevância do projeto não é problema, Carvalho
Filho acredita que o empenho político, aliado ao apoio da população, será fator
determinante na decisão do governo federal. “O processo licitatório pode ser
interrompido, desde que haja intervenção das autoridades. O Estado de São Paulo
ainda está vivo nessa briga e tem grandes condições de sair vitorioso”, diz.
O deputado estadual Mauro Bragato (PSDB) reconhece que se
trata de uma disputa política a definição do traçado final do trecho. Por conta
disso, antecipa que participará de uma reunião em Brasília (DF) com
representantes da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), órgão do
Ministério dos Transportes. Além dele, estarão no encontro outros membros da
Frente Parlamentar em Defesa da Malha Ferroviária Paulista, grupo da Assembleia
Legislativa do Estado (Alesp) do qual Bragato é presidente. “Manter a proposta
original vai na contramão do interesse público. Eles estão esquecendo que a
região já tem dois portos prontos sobre o Rio Paraná [Porto Primavera e
Presidente Epitácio], hidrovia em funcionamento e duas ferrovias já instaladas.
Mas, graças a interesses políticos, a ferrovia está sendo levada para uma
região onde há pouca estrutura e uma população muito menor do que a daqui”,
diz, em relação ao interior sul-matogrossense.
A prefeita de Rosana, Sandra Aparecida de Sousa Kasai
(PSDB), está segura de que o projeto elaborado por seus engenheiros irá vingar.
Para ela, não há como afirmar que o governo federal “rejeitou” a proposta regional,
já que a resolução apresenta apenas os nomes dos três pontos principais por
onde o ramal passará. “De acordo com o nosso projeto, o ramal também vai passar
por Estrela d’Oeste e terminar em Dourados, assim como está na resolução. A
diferença é que entre uma cidade e outra, vamos esticar a rota até os
municípios da região”, declara.
A reportagem entrou em contato com as Assessorias de
Imprensa do Ministério dos Transportes e da ANTT, mas nenhuma respondeu à
solicitação até o fechamento desta reportagem. A Valec, estatal responsável
pela obra, informou que a diretoria não estava disponível para se pronunciar
naquele momento.
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